quarta-feira, 17 de março de 2010

Solidariedade Sólida

Dia 28/11/2009, sábado. Tinha sido convidado, como aluno e jornalista, pelo professor Sinval Sacramento, de Desenho Técnico, para visitar o GAAC (Grupo de Apoio à Criança com Câncer), como parte final do projeto Solidificando a Solidariedade, no qual os alunos fizeram caixas de presente em formato de sólidos geométricos, colocando nelas brinquedos e materiais de higiene.


Oito em ponto cheguei, fardado, á coordenação de Desenho. Uma pequena decepção: era o único da minha sala entre os colegas que iam participar, aceitando representar o colégio e a si mesmo diante das crianças que esperavam receber os presentes doados por todos. Como vi, porém, que quem veio realmente estava a sério, a decepção passou. Contei, comigo, dez colegas, mais os professores Sinval, Otoni Jader, Marcelo Assunção e a técnica administrativa Iara Cunha. E essas 14 pessoas bastaram.


Carregamos no ônibus todos os presentes e mais alguns alimentos, e partimos para o lugar, com algum atraso. Passamos pela Estação Pirajá, aonde Otoni, didático, fez questão de ensinar a uma colega da Pituba sobre aquela parte desconhecida da cidade... Nesse clima, não demorou a chegarmos no GAAC,que fica no bairro de São Marcos,próximo ao São Rafael,dentro de um velho condomínio.


Pitorescamente,ele foi construído ao lado da elevação na qual ficava o condominio.Por isso,o primeiro andar é na verdade o último.Começando,desta maneira,pelo alto e pelo fim,paramos na recepção,com nossa carga preciosa.Enquanto esperávamos autorização para descer,vislumbrei um pequeno parque,no térreo.Brinquedos seguros e em boa quantidade,num chão de grama sintética.


O GAAC era organizado e limpo.Parecia uma instituição particular. Na entrada, vi camisas e souvenires a venda, e obras com motivos infantis, como um quadro do Pikachu, sorridente. Sem muita demora, descemos, em duas viagens de elevador, na primeira das quais um garoto desceu junto com o pessoal, feliz, doido para ganhar coisas. Ele era tão ativo quanto outros garotos que não tinham o mesmo problema; sua auto-estima devia ser bem trabalhada,como parte integral do serviço clínico.

Não me senti num hospital,quando entrei na área de recreação na qual algumas crianças,quase todas com suas mães,nos receberam.Seria fácil mentir e dizer que foi uma recepção calorosa.Não foi,nem precisava ser; deu para perceber que era algo cotidiano na vida deles.Simplesmente nos apresentamos ,e chamamos as crianças para nos ajudarem a escolher o que queriam.Deu-se uma boneca,algumas pelúcias,um Tarzan com cara de mau,dinossauros.


Alguns alunos,mesmo não estando ali,mostraram dar importância,enviando caixas que tive pena de rasgar. Uma ensinava sobre a África, e outra era uma casinha, com um urso morando dentro. Uma menina viu tudo como um presente só, e creio que essa era a intenção de quem fez a caixa. Conseguiu. Vendo-me sentado, abrindo caixas para verificar o que havia, algumas crianças vieram para perto. Queriam carros, coisas do Bahia, uma bola para jogarem juntos.

Alguém abriu um pacote de meias e começou a distribuir, e o pessoal não se empolgou muito. Lembrei dos meus aniversários, quando eu queria um hot wheels e vinha roupa... Entendi perfeitamente o que eles sentiram, entrando em empatia imediata com eles nesse momento. Foi uma pena termos que ir embora, devido ao pouco tempo que tínhamos. Quando voltamos para o elevador, vimos, no caminho, o garoto que desceu conosco carregando um saco cheio de presentes, dizendo que eram dele. Todos rimos.


Pudemos subir todos juntos, deixando o carrinho com os presentes. Eles seriam distribuídos entre os que não estavam. Voltamos para o IFBA, curtindo a viagem. Pensei na minha vida. Não ajudava a mim mesmo e estive ali, acabando de ser útil para alguém, por 40 minutos que fossem. Ensinaram-me a ver esse tipo de coisa como afetação pequeno-burguesa, mas quem me disse isso não fazia nada melhor por ninguém,nem nunca fará além de falar que vai chegar a hora.


Não me senti como um abobalhado,como de outras vezes em situações semelhantes.Era um igual ajudando outros iguais, que tinham um obstáculo a ser vencido.Numa bem sucedida ação pedagógica e social,a coordenação de Desenho mostrou ter mais a ensinar do que plantas baixas e bitolas em perfil.A mim,deu uma verdadeira aula de português,mostrando que o verdadeiro significado de ajudar(a-ju-dar ,v.m,infinitivo,...) alguém é uma forma de crescer em vez de aumentar-se,algo que esquecemos devido a mesquinhez do cotidiano.Agora é a hora para nós.

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