Não tens uma idéia de vida do camponês que cultiva a terra? O coletor de impostos
acha-se no cais ocupado em colher os dízimos da colheita. Tem consigo gente armada de
bastão, negros munidos de ripas de palmeira. Todos gritam: Vamos, os grãos! Se o
camponês não os tem, atiram-no ao chão [...].
O pedreiro, dir-te-ei como a doença o espreita, pois está exposto a todos os ventos, sobre
as vigas do andaime, pendurado nos capitéis o lótus; seus dois braços gastam-se no
trabalho, suas vestes em desordem, não se leva senão uma vez por dia. Quando não
consegue pão, regressa a casa e bate nos filhos. [...] O tecelão não se afasta de sua
casa; os seus joelhos estão à altura do estômago; se deixar de fabricar um só dia a
quantidade regulamentar, é amarrado com os lótus dos pântanos. [...] O mensageiro,
partindo para os países estrangeiros, faz seu testamento, receoso das feras e dos
inimigos. [...] O tintureiro tem sempre os dedos cheirando a peixe podre e os olhos cavos
de fadiga. [...]
Mas a profissão de oficial será mais tentadora? Vem, que eu te contarei a sorte do oficial
da infantaria. Levam-no ainda criança e encerram-no na caserna. Logo o seu ventre
estará todo rachado [...], sua cabeça, uma chaga. Estendem-no e espancam-no como a
um papiro. Queres que te conte agora a sua campanha na Síria, as expedições a países
longínquos? Leva os viveres e a água ao ombro como a carga de um burro; a sua espinha
parte-se. Bebe água podre. Deve constantemente montar guarda. Chega diante do
inimigo? É um pássaro que treme. Volta ao Egito? É apenas um velho pedaço de pau
roído pelos vermes. [...]
Eis por que te inclino para as letras.Aquele que desde a infância, procura tirar
proveito, esse é honrado.
Nicolas Oliver,retirado do livro História Antiga e Mediaval,de J. JObson de A. Arruda,que por sua
vez retirou de Maspero,G ,Histoire Ancienne dus Peuples de l´Orient.Paris,Hachetee,pág 137.